Crônica para lembrar o centenário de patativa
Em 2009 Patativa do Assaré faria 100 anos. Comemoro a data transcrevendo os principais trechos da entrevista que dei por telefone a jornalista Fernanda Guerra, do interior de São Paulo, em virtude do lançamento da antologia Melhores Poemas de Patativa do Assaré, que organizei para a Global:
“A identidade entre os textos é a da sensibilidade, não há temática pré-determinada. Fui selecionando o que me tocava, me sensibilizava, seja despertando raiva, incompreensão, amor. A marca é da emotividade”.
"Quis mostrar que a poesia é sempre poesia e deixar transparecer o que há de comum entre elas. Toada, cordel, tudo é, no fundo, a mesma coisa. Todas são extremamente musicais, mas também simples, diretas, falando de temas que estavam ao redor do poeta".
"Apesar de ter frequentado a escola por pouco tempo, Patativa era um autodidata. Ele lia poemas de Olavo Bilac, Guimarães Passos e Castro Alves, seu autor predileto, e dominava tanto a poesia culta quanto a cabocla".
"Ele era extremamente engajado. Foi contra a ditadura militar, participou das 'Diretas-já', denunciou o caráter político da seca, defendeu a reforma agrária e levantou a voz para mostrar a beleza do sertão".
"A imagem de poeta iletrado e inculto foi perpetuada pela mídia, que procurou o meio mais fácil e sensacionalista para falar dele, explorando a imagem de agricultor rural analfabeto, que diz versos iluminado por Deus. Hoje as pessoas sabem o nome, mas não sabem quem é o poeta, sua história de vida”.
"O aprendizado popular tem tanta validade quanto o acadêmico, o científico e o religioso. Entre o erudito e o popular não existe maior ou melhor, ambos têm o mesmo peso, o que difere é a forma e o conteúdo".
"Sou cearense também como ele foi, mas sou da capital, enquanto Patativa é do interior. Ele cultivou a roça dele, fazendo aquela poesia popular, observando o próprio mundo. Sou apenas um poeta contemporâneo e urbano olhando um dos maiores poetas populares do mundo".