Nomes só (2)
Samira
Ela chora muito, mal consegue falar, emocionada com a própria bondade. Funga e invoca “Jesus, nosso mestre”, para depois puxar um “Pai Nosso”, constrangendo a todos, os que seguem e os que não seguem sua religião. Adriana não reza, mas fica ali imóvel, covarde e respeitosa, de mãos dadas, enquanto a cabeça dela não para. Nalgum ponto dessa vida ela sabe que vai ter que parar de pensar e simplesmente embarcar na onda alheia.
Rita
Ela gemeu, a boca encostada na dele, os olhos abertos, fechados, abertos.
Dafne
Ela não tem idade para nada disso, entende? Para nada disso. Nem para e-mail no meio da tarde, nem para telefonemas ofegantes durante a madrugada. E antes que você comece com aquele discursinho que emprega frases edificantes como “ser jovem no coração”, vou logo avisando que ela acha que não tem mais idade para nada disso, então, fim de papo. E-mails gentis, frases espirituosas, descrições engraçadas sobre um cotidiano nem tanto — Deus, ela não precisa mesmo de nada disso. Ela tem cicatrizes.
Fotografia: Steve McCurry