“Onde está a resistência agora?”
“No desejo que silenciou; no branco do papel; na tela do computador; aonde você não chegou ?”
“Sempre ligado em aparências; não se deu conta que o poder toma tantas formas quanto necessita pra se reproduzir.”
“Morrer é ser excluído da vida. É preciso encontrar logo um lugar de onde falar. Qual função você quer desempenhar?”
“Não se trata de livre escolha. Aonde pode estar o sujeito de uma oração dentro de um mundo de pensamentos que devoram pensamentos, idéias que anulam idéias, dissonâncias, reverberações, ecos?”
“Eu sou um outro.”
“O apagamento do autor não exclui a intenção, o desejo. A própria idéia de sujeito se funda no direito jurídico da propriedade, no hábeas corpus, no direito de ir e vir. O estilo é a identidade. O jeito de falar. De se vestir. O corte de cabelo.”
“A escolha do perfume em vez de um perfume.”
“A biografia e a crítica literária determinam o valor do autor. De onde ele fala. Quem reconhece esse lugar de onde ele fala como um lugar que contem em si prestígio.”
“Que outras vozes estão associadas as suas? Quem são seus pares, suas fontes, suas referencias ?”
“Bricolagem”
“O autor é apenas uma testemunha.”
“Ser sujeito é estar no lugar do vazio”
“A descoberta do leitor”
“O leitor é o verdadeiro criador da obra ao criar possíveis interpretações para ela.”
"O que o leitor não lê pode ainda assim estar lá.”
“Uma obra tem valor quanto maior for a sua abertura. Quanto mais vozes ela puder ampliar, ressoar, evocar.”
“O significado não deveria ser explicito.”
“Nunca vivemos um tempo de tanta alienação.”
“Força alienada. Força banida. Força capital.”
“Você acha que sabe o que quer. Você pensa uma coisa e faz outra. Você acha que se conhece. Você não sabe o que faz.”
“Faz exatamente o que alguém quer que você faça achando que está fazendo o que você quer.”
“As palavras são vírus. Os pensamentos são vírus. Basta um comentário fora de lugar para te derrubar.”
"Há pessoas e pessoas. Pessoas que tem couraças tão estruturadas que se acham indestrutíveis. Passarão a vida como pedras no limbo.”
“É melhor correr o risco da loucura do que viver na segurança da servidão.”
“A liberdade flutua.”
“A liberdade é uma identidade flutuante.”
“A liberdade insiste em me sustentar.”
“Em vez de resistência porque não insistência.”
“Cuidado com a insistência. Ela pode virar compulsão.”
“Compulsão é a nossa cara.”
“Compulsão é a doença da contemporaneidade.”
“Nem toda repetição é compulsão.”
“A repetição tira a venda dos olhos.”
“A paciência de repetir velhas formas enquanto novas se fazem.”
“A repetição é um exercício.”
“O que seria dos atletas, dos músicos, dos acrobatas, sem os exercícios da repetição.”
“A repetição é a mãe da técnica. A repetição fortalece os músculos do atleta. A voz do cantor.”
“Não há improvisação sem repetição.”
“A improvisação quebra a norma e aponta novos caminhos.”
“Quem não improvisa se repete.”
“Um bom improvisador convive com os erros”
“Erros são acidentes de percurso que abrem os caminhos para que o artista não se repita.”
“O ato falho é sagrado”
“O acidente é um achado”
“Na matemática o discurso é fechado.”
“Dois mais dois jamais será cinco.”
“A matemática é arbitrária.”
“A mundo de hoje é matemática. Tecnologia binária.”
“Por isso os economistas gozam e os filósofos e poetas são foracluidos."
“A palavra foracluido é um paradoxo irresistível.”
“Mas não sejamos radicais, senão estaremos na mesma ordem dos discursos fechados. A física quântica é matemática porém interessante.”
“Tudo o que a filosofia ocidental produz de pensamento interessante já foi pensado antes pelos orientais.”
“O que se chama de intuição tem mais importância que conhecimento racional científico.”
“A consciência é uma experiência que se alcança no estado de repouso e na meditação.”
“O testemunho do ser, o terminal do leitor, tudo flui para esse espaço vazio aonde a projeção do desejo se dá.”
“O que é o desejo? Uma força que parece ser somente sua mas não é?”
Nesse momento se dá uma pequena pausa. O computador pifa só voltando a funcionar uma semana depois.
Continuando...
“Toda questão se dá no campo do poder.Não importa quem fala, nem o que é dito mas de onde, de que lugar e com que autoridade fala o sujeito.”
“Essa autoridade não é dada por quem fala e sim pelo conjunto de vozes que resguardam seus lugares dentro da cadeia produtiva do saber.”
“Guardiãs do conhecimento duramente conquistado através dos rituais e procedimentos legitimados pelas instituições oficiais.”
“O que está acontecendo com as milhares de vozes anônimas que estão surgindo a cada dia na Internet?”.
“A legitimidade desses novos produtores do saber não está passando pela mediação nem pela validação dos detentores institucionais do saber. Logo o que está sendo produzido não é moldado pelas regras, os mitos, as tradições e hierarquias oficiais”.
“Esse saberes não estão aí para perpetuar nem preservar esses valores.”
“Que valores?”
“Tradição. Família.Propriedade. Autoria.”
“Antes falavam de cinema aqueles que ascendiam à posição de críticos de cinema. Falavam de psicanálise aqueles que dominavam os jargões e conceitos da metalinguagem psicanalista. Para falar de alguma coisa era preciso ser autorizado legitimamente por alguém, pela sociedade. Agora não.”
“Isso é ruim ou bom ?”
“De certa maneira esse saber institucional exclui todos aqueles que não são suas crias.”
“E aí a pergunta que não quer calar. É possível produzir um pensamento interessante sobre cinema, música, artes plásticas, psicanálise, sem estar num lugar reconhecidamente como autoridade?”
“O leitor parece responder que sim.”
“O que interessa ao leitor não é o lugar de quem fala mais o que está sendo dito. O leitor quer ser incluído no discurso. Ele quer encontrar um espaço dentro da obra aonde ele possa refazer a sua trajetória.”
“Um espelho perfeito não cria espaço para mais nada.”
“É preciso então que a obra seja aberta a associações, a possibilidades de recriação por parte do leitor.”
“A possibilidade de recriação do real através da linguagem passa muito mais por uma democratização das falas, das trocas individuais e coletivas descentralizadas do que necessariamente pelos discursos estruturados dentro do poder oficial.”
“Talvez um diálogo entre os dois?”
“Até porque a tendência do poder é a exclusão. Para que alguns estejam dentro, tenham autoridade e esse prestígio como falantes, é preciso que outros estejam fora e sejam aqueles que serão falados, que terão seu discurso alienado.Aqueles que não terão um lugar e por isso serão excluídos da vida produtiva ou se tornarão, como acontece, na maioria dos casos, objetos da servidão voluntária, objetos do gozo dos outros.”
“A briga promete ser grande. Entre aqueles que já tem um lugar de autoria assegurado e aqueles que querem ser reconhecidos. É interessante porque isso colocará lado a lado quem tem poder com quem não tem. Caberá ao leitor, ao consumidor de conteúdo legitimar as melhores cabeças.”
“A ascensão e queda de certos mitos sustentados por impérios autorais/verbais é evidente.”
“Para muitos essa idéia é uma utopia.”
"Mas esses que falam estão também querendo colocar açúcar no próprio café.”
“Não sabemos quem está por trás desses conteúdos produzidos na web. Podem ser grupos de ativistas que não tem nada melhor para fazer. Não devemos confiar porque não sabemos quem está recomendando aquilo.”
“Eles são anônimos, podem estar tentando moldar nosso gosto de acordo com interesses particulares.”
“São jovens raivosos e radicais que não têm valores significativos para a nossa cultura. Jornalistas fracassados, gente que não conseguiu ser da mídia e por isso é ressentida.”
“Há muita picaretagem,”
“Os utópicos falam em democratização da mídia e do conteúdo, mas a conseqüência é uma nova oligarquia.”
“Tem muita gente ficando rica.”
“Quem tem ações do Google, YouTube, MySpace está ganhando uma fortuna.”
“Cuidado para não entrar de gaiato no navio.”
“Não há atalhos. Você tem que trilhar os caminhos. Passar pelo ritual de iniciante.”
“Mas pode brincar de vez em quando.”
“Brincadeira séria.”
“É o que todo artista faz.”
“Acho que é o que eu estou fazendo.”
“É aonde se dá a minha insistência agora.”
"É aonde se dá a minha existência agora."
"E a sua, onde está a sua insistência agora? Aonde foi que você chegou? Aonde é que você existe?"
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