POR
FLÁVIO PARANHOS
EM 06/02/2012 ÀS 08:14 PM
"Se Deus não existe, tudo é permitido". Essa deve ser uma das citações preferidas de um dos mais brilhantes filósofos que já existiu.
(Parênteses. Quando eu gosto muito de um escritor ou cineasta, concedo-lhe um "upgrade" para filósofo. Aqueles que ficaram bravos com meu artigo "Por que Woody Allen é superior a Dostoiévski", aqui na Bula, podem ter feito o juízo errado de mim, como não gostando do autor russo. Pois eu o considero brilhante, quase tão brilhante quanto Woody. A quem interessar possa, sou membro da Sociedade Internacional Dostoiévski, com muito orgulho).
Voltando à citação. Trata-se de uma referenciazinha capciosa, pois, pra começo de conversa, ela não é bem assim. Embora sua essência seja essa mesma, ela é dita de formas diferentes, em diferentes momentos do romance "Os Irmãos Karamázov". Por exemplo, quando Piotr Aliecksándrovitch conta um caso de Ivan Karamázov: "(...) se for destruída a fé em sua imortalidade, não somente o amor secará nele, mas também toda força de continuar a vida no mundo. Mais ainda, não haverá então nada de imoral, tudo será autorizado, até mesmo a antropofagia." (p.80 da edição da Ediouro). Aparece novamente na conversa entre Dimitri Karamázov e Rakítin, na prisão: "Mas então, o que se tornará o homem sem Deus e sem imortalidade? Tudo é permitido, por consequência, tudo é lícito?" (p.578, idem). E no discurso do promotor de justiça, a respeito de Smerdiakov: "Contou-me, lamuriando, no inquérito, como esse jovem Karamázov, Ivan Fiódorovitch, o amedrontara com seu niilismo moral: 'Tudo, segundo ele, é permitido, e, de agora em diante nada deve ser proibido'." (p.673, ibidem). Bakhtin resume isso bem: "Lembremos ainda a ideia de Ivan Karamázov, segundo a qual se não há imortalidade da alma, tudo é permitido. Que vida dialogada tensa leva essa ideia ao longo de todo o romance 'Os Irmãos Karamázov'! Que vozes heterogêneas a realizam! Em que contatos dialógicos inesperados ela entra!".
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