A morte de Euclides da Cunha tem todos os elementos de um folhetim: traição, drama, suspense. Mas falar em uma “conspiração política” é uma hipótese esdrúxula em face da verdade histórica secularmente registrada. O primeiro ponto que deve ser assinalado para se explicar a morte de Euclides da Cunha é o que diz respeito aos caracteres patológicos da sua personalidade. O genial escritor era um doente

Matéria publicada no suplemento “Mais” da “Folha de São Paulo”, no dia 2 de agosto último, salienta que durante muitos anos, até recentemente, biógrafos e críticos de Euclides da Cunha visaram em suas obras a defesa da honra do autor de “Os Sertões”. Dessa preocupação haveria de resultar, naturalmente, o escamoteamento da verdade sobre como e por que aconteceu a morte do inditoso escritor.
Agora mesmo, no penúltimo domingo do agosto que terminou na última segunda-feira, pelo canal da “Globo News” foi apresentada reportagem em que se pretendeu, por parte de dois pouco conhecidos historiadores, criar nova versão relativa ao homicídio que vitimou Euclides. Pretendem eles, contra todas as evidências jamais postas em dúvida de 15 de agosto de 1909 até hoje, transformar em crime político a dolorosa tragédia passional — inúmeras vezes considerada a maior ocorrida no Brasil do século XX — na qual, além da morte do escritor, se viram alvejados gravemente os irmãos Dilermando e Dinorah de Assis, este um jovem atleta do Botafogo, cuja lesão lhe acarretou hemiplegia e daí a quatro anos o suicídio. Tragédia que se desdobrou sete anos depois, quando Euclides da Cunha Filho (Quidinho), com vinte anos de idade, tentou vingar a morte do pai e acabou morto por certeiro disparo de Dilermando de Assis. Que, pela segunda vez, matou para não morrer.
Um desses historiadores — Claude Rodrigues — diz que “Euclides da Cunha teria sido assassinado por uma conspiração política”. O tempo verbal já por si afirma ausência de argumentos para uma afirmação. Claude Rodrigues nenhum fato aponta capaz de imprimir seriedade às suas especulações, de espantosa fragilidade em face da verdade histórica secularmente registrada. Vale repetir: ele não apresenta um só fato para espeque de hipótese tão esdrúxula. Já a historiadora Maria Olívia limita-se a dizer, na entrevista ao mesmo programa da “Globo News”, que “algumas instituições ‘sacralizadass’ deram um jeito desse crime acontecer”. Que jeito foi esse ? Que instituições “sacralizadas” eram essas? O telespectador ficou sem informação alguma. O leitor verá pelos fatos colacionados a seguir que os dois “historiadores” foram, infelizmente, in casu, no mínimo inconsequentes. O que é lamentável, pois os telespectadores que até hoje não tiveram oportunidade de conhecer a história protagonizada por Euclides da Cunha pai e Euclides da Cunha Filho, Ana Emília Ribeiro da Cunha (Saninha), Dilermando de Assis e seu irmão Dinorah, ao influxo das especulações de dois intelectuais que se apresentam como estudiosos euclideanos — mas que com relação ao fim trágico dele suscitam versão absurda, inimiga dos fatos — poderão imaginar ou aceitar uma hipótese destituída de qualquer fundamento, indigna de com ela se gastar tempo.
O primeiro ponto que deve ser assinalado para se explicar a morte de Euclides da Cunha é o que diz respeito aos caracteres patológicos da sua personalidade.
O genial escritor era um doente. E isto foi revelado convincente e insuspeitamente já sete dias depois da sua morte. No dia 22 de agosto de 1909, o escritor Júlio Bueno, que foi seu amigo de estreita convivência na cidade mineira de Campanha — onde Euclides morou de março de 1904 a meados de 1905, ao impacto ainda muito forte das notícias dos jornais cariocas sobre a Tragédia da Piedade, conta em artigo publicado no jornal local “O Muzambinho”:
“Conheci na intimidade o notável autor dos ‘Sertões’, na Campanha, quando ali estivera como engenheiro militar, encarregado da Santa Casa para quartel do 8º.Regimento de Cavalaria.
Já nessa época distante, uma neurastenia incipiente começava a perturbar a vida agitada do moço militar, cujos surtos intelectuais não tardavam a desabrochar. Aí, na quietude da cidade sul-mineira, lhe ocorre escrever ‘Os Sertões’, que o tinham de imortalizar. Entre os livros que lhe emprestei e que ele devorava numa grande ansiedade, um lhe fez grande mossa e talvez fosse o inspirador dos ‘Sertões’: é o livro de E. Liais, ‘Geologie, flore, faune et climats Du Bresil’.
Para provar que a neurastenia já nessa ocasião começava a minar latente o organismo vibrátil de Euclides da Cunha, vou relatar uma feição característica do seu temperamento nervoso, de seu espírito agitado.
Vizinhávamos e era raro o dia em que não jogássemos uma inocente partida de inocente gamão.
Dentro em breve compreendi que tinha diante de mim um doente. A princípio, eu fazia o meu jogo, empenhado em ganhar a partida. Porém, como isto sucedesse várias vezes seguidas, percebi que Euclides ficava exacerbado, trêmulo, terminando sempre por sair pisando forte e sem se despedir.
Uma vez que prendi suas távolas no canto extremo do tabuleiro, fechando todas as casas desse lado, o moço, transfigurado, levanta-se e me intima que deixasse uma aberta por onde pudessem sair as suas. Eu, com a maior calma, retorqui:
Mas, Dr. Euclides, isto não é permitido. Do contrário, perderia todo o interesse a batalha.
Bramou ele: — Eu não sou escravo de regrinhas de jogo, ouviu? Isto é mera convenção. Fica para nós estabelecido que não se deve bloquear o adversário, inutilizando-o, deixando-o na atitude vexatória de um inativo.
Compreendendo o que desejava o meu adversário, assenti na adoção de uma regra nova no mais velho dos jogos. Disse-lhe simplesmente, com a maior bonomia: — Seja assim.
Dr. Euclides ganhou a partida. Então, levantou-se muito ufano, muito radiante, dizendo-me: - Você vai aprender para jogar comigo. Fique sabendo que eu sou invencível no gamão.
Eu concordei com o caro amigo, não querendo extinguir aquela alegria...”
E Júlio Bueno, depois de registrar que, nesse tempo, 1985, conheceu a esposa de Euclides; e que esta “era uma verdadeira dona de casa”, assinala:
“Exercia ela, felizmente para a felicidade do lar, um grande ascendente sobre o marido, aconselhando-o, advertindo-o, procurando arredá-lo das bancas de jogo, visto lhe conhecer o gênio arrebatado, o seu temperamento impulsivo.”
Continua: “Era comandante do 8º. Regimento de Cavalaria o coronel Cristino Bittencourt, que, como o seu ilustre irmão, ministro da Guerra de Prudente, era verdadeiro tipo de oficial, devotado à disciplina mais rigorosa. Não ria nunca, mesmo com as mais elevadas patentes do Regimento.
Nas rodas oficiais e de civis, quando o coronel Cristino chegava, a conversa era mais sóbria, mais circunspecta, mais disciplinada. Euclides era o único que se rebelava contra aquela atmosfera de formalismo. Ele contava, com a maior ‘sans façon’, pilhérias picantes, que provocavam do tenente Arduino boas gargalhadas. O próprio comandante desenrugava a fronte e sorria.
Em Campanha, Euclides da Cunha teve a prova da estima daquele povo generoso, que sabia aquilatar do valor do grande patriota. Lá está a praça que fica em frente à Santa Casa com o nome imortal de Euclides da Cunha.
Mas aquele grande espírito tinha uma falha; aquele imenso coração tinha um ponto; aquela alma adamantina, como um novo Gulinan, tinha uma jaça; aquele Himalaia de patriotismo, de dedicação para os fracos, para os oprimidos, para os pequeninos, para os infortunados, tinha uma caverna escura; como Aquiles, o herói de Homero, tinha um ponto vulnerável; aquele cultor apaixonado do dever tinha um senão: essa falha, esse ponto negro, essa jaça, essa caverna escura, esse ponto vulnerável, esse senão, era o abandono moral da companheira, daquela que, cheia de sustos, cheia de afeto, de carinho, de zelo, de dedicação, o aconselhava, o advertia, o arredava dos perigos, procurando cercá-lo de uma atmosfera de calma e de repouso. Porém, o grande homem, por uma fatalidade idiossincrásica, correspondia mal a essas disposições da esposa.”
E o culto amigo e companheiro de Euclides em Campanha conclui, sem que o seu importantíssimo depoimento, feito num jornalzinho do interior mineiro sete dias depois da Tragédia da Piedade, tenha sido jamais levado em conta pelos biógrafos de Euclides e por nenhum historiador:
“Daí a tragédia que durou tantos anos a ser representada, tendo o seu desfecho fatal na cena da Piedade, cena que nos enche de pavor e de imensa comiseração, mas que seria inevitável, fatal, dados os precedentes que a determinaram.”
Sobre o comportamento de Euclides em relação à mulher e aos filhos há também o documento enormemente expressivo que é esta carta do seu próprio pai, dirigida a ele quatro anos antes da tragédia:
“Não tens sido franco nem leal comigo. Temos estado juntos algumas vezes, eu aí estive ultimamente até retirei-me bem aborrecido e até hoje não conheço nada dos teus recursos. Sei apenas que tens quantia não pequena em um banco de Manaus, e, entretanto, se eu tivesse conhecimento pleno da tua vida, ser-me-ia fácil e até agradável dar uma direção vantajosa a esses recursos , pois, para isso, sobra-me experiência. Nada me disseste, eu compreendi somente que havia falta de confiança, mas,como esta não se impõe a ninguém, retirei-me daí apressadamente e contrariado, não só por isso, como também pela forma estranha como tratas tua mulher e filhos, sobretudo a Sólon, a quem mais estimo. Pensei que o trato que tens feito e sobretudo os meus conselhos tivessem modificado a tua maneira de viver, mas encontrei os mesmos destemperos, a mesma desordem de outrora.”
Eloi Pontes, autor de “A Vida Dramática de Euclides da Cunha”, livro provocador de indignada reação do homem que matou o exponencial narrador e intérprete da guerra de Canudos, reconhece o lado mórbido do seu biografado:
“Os anos correm, mas a espécie de patofobia (em Euclides) nunca se enfraquece. Suas crises coincidem com as crises de fadiga moral, pessimismo e dúvidas de ordem econômica. Certo é pouco robusto. A dispepsia incoercível persegue-o a vida inteira, agrava-lhe os ímpetos de tristeza e mau humor. Os receios, que o atormentam, delatam mais que simples padecimentos orgânicos. Revelam descompassos psíquicos incuráveis.”
Tuberculoso, Euclides tem fortes crises de hemoptise. Eis como descreve seu quadro patológico em carta a Domício da Gama:
“O haver dobrado o cabo melancólico dos 40 não remove inteiramente o espantalho da tísica. A prova está em que somente hoje deixei de acordar com febre; e estou plenamente certo de que, se abandonar o regime que me impuseram, não resistirei — tal o depauperamento e a miséria orgânica a que cheguei.”
Quando Saninha (30 anos, três filhos) e o jovem cadete (17 anos) Dilermando de Assis se conheceram, Euclides da Cunha se encontrava no Acre em missão delegada pelo ministério das Relações Exteriores, sendo ministro o Barão do Rio Branco. O escritor saíra do Rio a 4 de dezembro de 1904. Na região amazônica, ficara três meses em Manaus. Em abril partira para o Acre, como chefe da Comissão do Alto Purus, encarregada de defender os interesses do Brasil em questão de limites com o Peru, objeto de negociação diplomática. Somente 1 ano e 1 mês depois de sua partida, retorna ao Rio, a bordo do navio Tennyson. Saninha e Dilermando já se haviam apaixonado uma pelo outro desde setembro de 2005. O romance começara na Pensão Monnat, à rua Senador Vergueiro, 14, Rio de Janeiro.
Ausente o marido, Saninha morava com duas tias de Dilermando de Assis — Angélica e Lucinda Ratto naquela pensão. Vindo de São Paulo, de onde retornava ao Rio a fim de estudar na Escola Militar da Praia Vermelha, da qual no ano anterior fora expulso por participação na chamada revolta do “Quebra Lampeões”, recentemente anistiado, passa na casa de hospedagem para fazer entrega de encomenda feita por uma daquelas tias. Ali revela onde está a residir. As mulheres, com a alegação de que ele deve morar em local perto da Escola, convencem-no a se hospedar na Pensão Monnat. Aí acontece o que ele mesmo assim descreve no seu livro “A Tragédia da Piedade”, publicado em 1950:
“Morando na Fortaleza de São João, em casa de meu padrinho, atendendo ao pedido por estas duas senhoras feito, concordei em ficar fazendo-lhes companhia no prédio onde haviam tomado cômodos, à Rua Senador Vergueiro, número 14. Já porque ficava mais próximo à Escola, aonde devia ir ter em breve, já porque me emancipava do rigoroso horário dos escaleres daquela praça de guerra, tal aceitação se impunha. Convinha-me, por isso.
Contava, então, dezessete anos e nenhum mal se me afigurava ir naquela decisão, pois via ali a casa de uma parente e de uma amiga de minha mãe, e nunca a de meu desconhecido, Dr. Euclides da Cunha, cujo nome nem ouvia falar. Jamais imaginara desse passo adviesse tanta desventura nem no que podia degenerar.
A convivência acarretando a intimidade; a falta de experiência ou malícia permitindo a aproximação mais íntima; a vida não mais de enclausurado abrindo novos horizontes; as leituras em comum despertando fantasia; a puberdade despertando encantos; os espetáculos inviscerando devaneios; a coincidência de predileções desportivas trazendo o embevecimento; o retiro facilitando o império da natureza; a ausência de um conselho protetor que advertisse do curso da idolatria prestes a converter-se em paixão e tantas outras circunstâncias, já materiais, já morais, ora de maior, ora de menor monta, que seria ocioso enumerar, tudo concorreu para o despertar de novos sentimentos. E assim, nessa ebriez incontível, imperceptivelmente se consumou o meu crime. Porque é só onde vejo a transgressão à Lei: no ter amado, aos dezessete anos, uma mulher casada cujo marido não conhecia e se achava ausente, em paragens longínquas, sem mesmo ser lembrado, sequer por inanimada fotografia. Era a fatalidade, tinha de ser assim, tal havia de suceder de setembro a outubro de 1905.”
Desse texto sem dúvida bem escrito em que Dilermando de Assis sintetiza com perfeição as circunstâncias que envolveram Saninha e ele, ausentes estão apenas a energia, a vitalidade, o garbo do jovem alto e atlético, a “insanidade da adolescência” de que fala Ruy Castro sobre Herman Melville em breve ensaio, a propósito de “Moby Dick”; e a atração por ele, Dilermando, exercida sobre uma mulher bonita e intelectualmente prendada, carente de afeto e de sexo.
Resultou tudo isso num romance imensamente tórrido e numa tragédia esquiliana, em que a realidade parece superar a ficção.
Euclides da Cunha retorna, l ano e 1 mês depois de sua partida, de sua missão na Amazônia, a 5 de janeiro de 1906, a bordo do navio Tennyson. No cais do porto da cidade do Rio envia telegrama a sua mulher, avisando de sua chegada e solicitando que ela ali o vá encontrar. Pormenor interessante: a mensagem telegráfica é endereçada ao dono (Sr. Fonseca) de um armazém do qual, naqueles 13 meses, se abastecera, para alimentação da família, a mulher do escritor.
Saninha, surpreendida, pois não sabia do regresso do marido, não vai ao cais. Pede que Dilermando vá. O cadete faz a recepção, causa, naturalmente, de estranheza para Euclides, a quem é apresentado como “filho da sua comadre Angélica”. Em casa, Saninha entrega uma carta a Euclides, propondo-lhe a separação e dizendo-lhe que quer se divorciar, pois em sua ausência o havia traído. Euclides pergunta se ela havia profanado o seu corpo. Ela responde que traira “apenas espiritualmente”. Euclides diz que se assim fora — “apenas espiritualmente” — a perdoava. Não se justificava o divórcio.
Mas Saninha está grávida. Euclides suspeita ter ela cometido adultério. Suas relações sexuais com ela eram muito recentes. Passa a tratá-la com rispidez.
Dilermando, percebendo desconfiança de Euclides, escreve-lhe carta em que procura desfazer as suspeitas. Euclides da Cunha, também por carta, responde desta forma ao jovem cadete:
“Dilermando, não querendo demorar a resposta à sua carta de ontem, escrevo-lhe neste papel, certo de que me desculpará. A minha resposta é simples: há grande, absoluto engano no que imagina. A questão é muito outra — e você é inteiramente estranho a ela. Veja o inconveniente de se tirarem deduções de atos e palavras isoladas. Além disso, apesar de aborrecido por um sem número de contrariedades, julgo que não o trato mal. Na sua idade nunca se é um homem baixo. Não creia que lhe houvesse feito tal injustiça. A minha casa continua aberta sempre aos que são dignos e bons. Não poderá fechar-se para você. Quando souber a razão do meu aborrecimento, avaliará a injustiça que fez a si próprio e a mim. Até sábado. Estude, seja sempre o mesmo rapaz de nobres sentimentos, e disponha dos poucos préstimos do am, crdo, obr, Euclides da Cunha.”
Dilermando, em entrevista à revista “Diretrizes”, mais de 30 anos após a Tragédia da Piedade, confessa que “era uma bela lição de moral que eu recebia. Fiquei profundamente chocado com essa carta. Senti que não andava bem. Mas que fazer naquela contingência? Tinha que ficar calado, do contrário seria pior.”
A professora Walnice Nogueira Galvão registra, em “Crônica de Uma Tragédia Inesquecível” (livro de 2007 que contém todo os autos do processo sobre a Tragédia da Piedade), sobre essa carta de Euclides, haver lhe afirmado o jurista Osvaldo Gallotti constituir-se ela num documento que o “espírito científico” impunha constar da epistolografia de Euclides. Por que imposição do “espírito científico”? Porque atesta a instabilidade e a fragilidade psíquicas do autor de “Os Sertões”, eis que eram notórias suas suspeitas sobre as relações dela com Dilermando, desconfianças demonstradas principalmente perante este, que por esse motivo escrevera aquela carta ao escritor.
Seis meses depois do regresso de Euclides nasce a criança que ganhará o nome Mauro e morrerá daí a apenas sete dias. De debilidade congênita, afirma o laudo médico. De inanição, dirá mais tarde Saninha, consequente do impedimento, por parte de Euclides, de se alimentar o recém-nascido, conforme afirmação da filha Judith no livro “Anna de Assis — História de um Trágico Amor”, texto de Jefferson Ribeiro de Andrade.
Meses depois, o nascimento de um menino louro, olhos azuis, que ganha o nome de Luis.
Euclides da Cunha recebe em casa visita do casal Coelho Neto. O famoso escritor é um dos seus maiores amigos. Euclides, mostrando ao casal os cabelos louros da criança: “É como uma espiga de milho no meio de um cafezal.”
Saninha propõe vezes repetidas a separação. Euclides não aceita. “Essa mulher me domina!” — exclama um dia.
Até que no dia 13 de agosto de 1909 — data da última aula de Euclides no Colégio Pedro II, na cadeira de Lógica que disputara com o filósofo Farias Brito, em concurso no qual este obtivera o primeiro lugar, sendo, no entanto, preterido em favor do autor de “Contrastes e Confrontos”, segundo colocado — Saninha sai de casa e vai para a de Dilermando e Dinorah, situada no bairro da Piedade, na Estrada Real de Santa Cruz.
Euclides da Cunha decide buscá-la. Não sabe onde ela está. Na procura, é informado do seu paradeiro. Um primo fornece-lhe um revólver. Na casa número 14 da Estrada Real de Santa Cruz, onde estão Dilermando, Dinorah, Saninha e os filhos Sólon e Luis, após ter sido permitida (por Dinorah) sua entrada, Euclides aponta a arma para Dilermando e, inteiramente desvairado, como um louco, exclama: — Vim para matar ou morrer.
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